jose y pilar (2010)


jose y pilar
125'

ano: 2010
país: portugal, espanha, brasil
realizador: miguel gonçalves mendes
imdb: 8.8






um documentário que há muito queria ver e, só recentemente pude vê-lo integralmente e ficar surpreendida pela positiva (o meu cepticismo relativamente a este doc era extremamente alto devido a tanta publicidade em todos os festivais de cinema por lisboa). devo dizer que o kick-off de motivação para vê-lo deve-se ao sr. david santos, que com a sua única música em português "o palco do mundo" e que pertence à banda sonora de "josé y pilar" cativou-me a finalmente deixar a proscratinação para trás. 

mas o que se pode esperar deste documentário? não é uma espécie de biopic da vida de jose saramago, ou da vida do casal, mas sim uma biopic dos anos próximos à sua morte, aliás diria que o melhor termo seria um video-diário destes últimos anos, visto que retrata o dia-a-dia simples e não procurar aprofundar todo o contexto e as pessoas pertencentes ao mesmo; foca-se apenas num diálogo constante de saramago com o público, quase como se este fosse a sua consciência. neste processo, podemos perceber a relação entre jose y pilar, como marido e mulher, mas principalmente como duas pessoas com personalidades muito fortes que formam uma equipa de acima de tudo, dois melhores amigos. e, atenção que não pego no título "melhores amigos" como se falássemos do josé e do paulo que vão beber uma cerveja todos os dias ao café da esquina e os seus filhos são amigos; melhores amigos no sentido, de que se complementam e se apoiam um ao outro incondicionalmente, a todos os níveis.

mais do que surpreender, este documentário cativou-me principalmente por dois aspectos: primeiro, o documentário dá-nos acesso aos pensamentos mais normais da cabeça de saramago e, aí nos mostra do que faz o seu génio, a sua persistente crítica e dúvida às coisas mais simples, coisas que não perdemos a analisar e, que ele ao perder esse tempo durante os seus silêncios consegue pôr o público a pôr em causa a essas pequenas coisas e de certa forma guiar-nos através da sua interpretação à nossa própria compreensão. este sem dúvida, é o maior ponto forte. mas saramago não fica apenas por estas interpretações; na minha opinião ele expande esse acesso não só aos seus pensamentos banais, mas também leva-nos a como se sente uma pessoa que sabe que o seu tempo se esgota, mesmo que isto signifique que tenhamos vivido mais de 80 anos. fica-nos então a sabedoria, sobre um julgamento mais claro sobre o que realmente é importante e, o que com o tempo nós acabamos por perceber que demos demasiada relevância. esta perspectiva de uma proximidade com a morte torna-se também importante, por ser do ponto de vista de um ateu e, tal como saramago diz, não é o facto de estar ao pé da morte que o faz acreditar em deus; e, conclui na perspectiva de um dos maiores génios portugueses e mesmo do mundo a sua definição de morte: a diferença entre o estar e o já não estar.

numa outra perspectiva, algo que talvez possa desiludir as pessoas e o que curiosamento coincide com um dos principais fundamentos da arte, é o facto de se sentir que é um documentário para pilar e, não para o público. do meu ponto de vista, é um reconhecimento do que pilar foi para saramago, como mulher, como amiga e como sua colega de trabalho. 

em termos conclusivos, quem quer um resumo da vida de saramago para saber alguma coisa dele ou uma história de amor, não veja. quem quer ter acesso aos pensamentos de um dos maiores génios que existiu (e não só pela sua literatura, mas também pela sua existência), não hesite.

RATING: 4/4


3 comentários:

Andreia André disse...

"acesso aos pensamentos mais normais da cabeça de saramago e, aí nos mostra do que faz o seu génio" Bem verdadeee! x)

Unknown disse...

O problema para mim não foi ser um doc para Pilar, ou ser sobre os pensamentos dele, apenas não achei tão interessante como expectava pela temporalidade do doc, por outro lado foi bom conhecer o homem por detrás de todas as peripécias e polémicas com os seus livros, as suas afirmações e o estado português.

Patrícia Neto disse...

andreia, ainda bem que citaste isso, porque estava com medo de não expressar bem esse lado do documentário que tanto adorei!

ricardo, como disse no fim também: "em termos conclusivos, quem quer um resumo da vida de saramago para saber alguma coisa dele ou uma história de amor, não veja. quem quer ter acesso aos pensamentos de um dos maiores génios que existiu (e não só pela sua literatura, mas também pela sua existência), não hesite.". e, tal como disse no início, não era uma biopic. relativamente à parte do estado português foi bastante fraco e, tudo foi feito na maior das superficialidades na festa de suposta "reconciliação".