melancholia (2011) & un été brûlant (2011)



melancholia 
136'

país: dinamarca, suécia, frança, alemanha.
ano: 2011
realizador: lars von trier
imdb: 7,6












um dos mais esperados filmes do ano, que esteve hoje presente na sua ante-estreia em portugal no lisbon estoril film festival. contando com um punhado de talentos no seu elenco, kirsten dunst e charlotte gainsbourg especialmente, lars von trier destaca a sua assinatura no mundo do cinema explicitamente neste filme. mas para quem já viu o "anti-cristo" avisa-se desde já que a magia da filmagem do realizador está presente, mas a sua violência não, ou pelo menos de maneira explícita e física como podemos ver nesse filme. 

avaliando as duas masterpieces do realizador em termos históricos paralelamente à sua depressão, o "anti-cristo" foi escrito no momento em que a sua depressão atingia níveis incontroláveis e, apesar de ter sido re-escrito após este momento é claro o impacto que teve no filme com uma visão mais negativa e na minha opinião diria até de pânico. relativamente ao "melancholia" lars von trier encontra-se numa fase de tratamento do estado de depressão e, uma das coisas que achei interessante e realmente traduz a ideia do filme, é que lars von trier inspirou-se para fazer o filme no facto do seu terapeuta lhe ter explicado que as pessoas depressivas tendem a estar mais calmas em situações de pressão do que as outras pessoas, visto que já esperam que as coisas más vão acontecer. 

"melancholia" é isso mesmo, o retrato de como diferentes pessoas com diversos fundamentos e estados reagem a uma situação de pressão e pânico.  no entanto, lars von trier deixa-nos igualmente em estado melancólico, mas num estado vicioso que dos realizadores que vi até hoje, é o único que o consegue fazer: explorar tanto as suas personagens no silêncio e em imagens com tendência para a stillness, que traduz estas emoções para um impacto físico no seu público. não consegui evitar, apesar da incompreensão até uma certa parte do filme relativamente à personagem de kirsten dunst, sentir uma indisposição, uma ansiedade, de todas aquelas expressões na cara dos actores; no desconhecimento da sua causa mas numa total compreensão das suas emoções. e, isto para mim traduz o principal contributo de lars von trier tem para o cinema. 

quanto à filmagem, no início torna-se um bocado irritante devido à "turbulência" propositada da câmara, mas acalmo já os mais impacientes ao informar que é meramente temporário. o cenário no tjolöhom castle em trollhättan na suécia é magnífico e tem momentos com o planeta melancholia que são uma coisa literalmente de outro mundo. 

relativamente à prestação do elenco, irei referir.me apenas às protagonistas, reconhendo como sempre o valor à minha actriz preferida, a madame charlotte gainsbourg, que consegue sempre superar as minhas expectativas e, dar uma prestação que me leva para a pele da sua personagem. kirsten dunst, num registo diferente do que é habitual (mesmo em "all good things" a sua sweetness não escapa), surpreende e não é por acaso que com este filme ganhou o prémio de melhor actriz em cannes. 

RATING: 5/5


*






un été brûlant
95'

país: frança, itália e suiça
ano: 2011
realizador: philippe garrel
imdb: 4,5












tenho que admitir que neste caso e, pela primeira vez, um filme com o louis garrel me desiludiu.  no entanto, foi muito bom poder ver à minha frente (após anos a babar-me) o monsieur louis garrel a apresentar o seu filme e a explicar a sua origem e significado. simpático, charmoso e com aquela personalidade que dá às suas personagens e, dizendo que hoje em dia o amor já não é como o seu irmão philippe garrel o vê, já não se  sofre e  se sente que o mundo acabou só por causa da pessoa amada. se calhar desiludindo muitas das suas fãs que pareciam encher a sala e mandar gritinhos quando ele apareceu à porta, louis garrel como bon vivant deu o ar da sua graça. 

louis garrel explicou de início que o filme não iria conter as suas habituais cenas de teor sexual nem algo do género; fez questão de acentuar que o seu irmão (o realizador) gosta de focar-se nos pequenos mal-entendidos que as relações entre as pessoas provocam e, no quão complexos estes podem ser até nos casos que parecem mais óbvios de julgar. 

tendo isto como introdução, não esperei pelas cenas que tanto adoro de louis (tem de ser admitir que adicionam muito ao filme, nem que sejam meras cenas de sedução) e, esperei um grande foco emocional e complexos mal-entendidos como woody allen apresenta na sua versão comédia romântica ou de maneira mais próxima por exemplo, a pedro almodóvar. tendo uma pessoa isto como expectativa (eu deveria ter acreditado em garrel quando ele disse que as pessoas têm uma tendência para não gostar do modo de filmagem do seu irmão) é perigoso começar a ver um filme que causou os aplausos de meia sala e o buh da outra metade em festivais anteriores. e, assim fiquei: aquém das expectativas. philippe garrel de certa forma tenta pegar em mal-entendidos (que não são assim tão complexos, e na sua complexidade não foram bem explorados a nível emocional) e tentar dar uma visão de stillness como mencionei como técnica de lars von trier. no entanto parecia uma stillness constragedora, em que os silêncios por entre os gemidos apaixonados pareciam ter muito aquele cliché de latino de paixão fogosa de que o amor quase nos tira a respiração. 

os diálogos de louis garrel e vladislav galard (do qual não gostei da sua prestação) até poderiam ter sido explorados, porque puxavam a temática do que é necessário para ser feliz, enquanto que para um bastavam telas e a sua mulher (mas tinha a sorte de ser abastado), o outro queria revoluções mas deixava-as apenas em intenções e conversas pois tinha que sobreviver do pouco que tinha. monica bellucci torna-se uma personagem irritante a meu ver, com o seu silêncio, de certa forma com o seu exagero (que talvez seja meramente da sua personagem) e cliché de mulher latina.

RATING: 2.5/5

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