o jardim (2007)



álbum da semana

tiago bettencourt
o jardim (2007)

1. canção simples                      8. amanhã
2. a ponte                             9. o campo
3. o labirinto                         10. noite demais
4. o lugar                             11. fim da tarde
5. os dois                             12. praia
6. outono                              13. o jogo
7. voo                                 14. o jardim





Se remexer no meu passado musical que além de demasiado recente envolve uma quantidade absurda de artistas e géneros é complicado termos álbuns completos que signifiquem algo para nós, muitas vezes mesmo em relação às nossas bandas preferidas. Não ouvia música quando Toranja surgiu, mas também não os oiço agora, apesar de conhecer as mais tocadas, principalmente a Carta, foi Tiago Bettencourt a solo e por si só que me interessou e despertou um vício momentâneo pelo seu cd, O Jardim. O meu vício começou depois de o ver ao vivo no Cinema de São Jorge em 2008 e só descansei quando desfiei o álbum na minha cabeça. 

 O álbum começa com a sua canção mais comercial e também a que teve mais sucesso a esse nível, Canção Simples, até faz jús ao nome visto as músicas mais comerciais tenderem a ser mais simples, proporciona um começo alegre ao cd, com um romantismo optimista de criança e um instrumental simples mas eficaz (confesso que irritante após tanta reprodução). 

De seguida reproduz-se A Ponte, uma letra simples, alegre e romântica, sendo a simplicidade uma característica que considero boa neste álbum. O Labirinto é, neste cd, a música mais rock português de Tiago, com um ritmo enérgico e uma letra perfeita que forma jogos de palavras e rimas muito boas da forma como ele lhe dá voz. 

As letras mais bonitas de Tiago para mim estão nas suas músicas mais deprimentes ou depressivas, O Lugar é o começo disso, uma história com final feliz mas que lhe dá o toque de conseguir, quase com as mesmas frases mostrar os seus dois pólos emocionais. Quando parece que tudo ficou bem naquele “lugar”, Os Dois demonstram outra fase menos boa, mas engraçada da forma como ele a descreve e com o seu ritmo leve e alegre, os dois pólos emocionais transformam-se apenas no antagónico e popular “quanto mais me bates mais gosto de ti”. 

Outono é para mim das melhores músicas portuguesas do género, ao nível de qualquer cantor português e das suas letras, seja Paião, Variações, Rui Veloso, Jorge Palma ou Manuel Cruz, o que Tiago consegue fazer no conjunto letra, voz e instrumental soa, volto a repetir, ao mesmo tempo simples e demasiado bonito para ser simples. 

O Voo é uma música para mim difícil de definir pois foi a primeira que me ficou na cabeça e todo o seu sentido era pessoal, daquela altura da vida, tomos temos disso, a letra é uma forma de nos sentirmos, o que Tiago faz constantemente é contar sobre formas de sentir, não conta o que aconteceu mas sim o que se sente em relação a isso, nesta música fá-lo de uma forma mais rock que no resto de álbum e isso dá todo sentido pela forma como ele interpreta a letra. 


 “Se és tu que tens que ouvir 
Sou eu que tenho que ver” 


 Amanhã é para mim a única música que foge às letras românticas, vejo-a como um espelhar do mundo cantado de forma rápida e mais agressiva. 


 “Quem vai querer comer a terra 
quando a terra está a arder
quem vai querer parar a guerra 
quando a guerra faz morrer 
quem vai querer lembrar a luz 
quando escuro está o mundo”


 Depois desta música Tiago embala em duas das suas mais tristes letras, O Campo e Noite Demais, em termos de instrumentais não existe nada de distintivo em relação ao resto, mas vê-lo ao vivo é quase teatro, não físico, com a voz e o som de fundo é difícil não gostar. 

Já para desanuviar, visto que está perto do final do álbum, Tiago leva-nos pelo Fim da Tarde em mais uma disputa sobre uma relação que se estragou apesar de: 


 “tu aqui é bom para mim. 
 E tu aqui é bom (..)
 E eu aqui é bom para mim 
 E eu aqui é bom para ti." 


 Passamos pel’A Praia que é um alívio de sentimentos negativos, um convite ao relaxar e aproveitar o que se tem e é dessa forma que eu vejo esta música quase que para compensar toda a depressão de algumas músicas anteriores. 


 “Os lobos uivam mas dançamos mais alto 
 E como sabes eu vou querer dançar também” 


 Para finalizar o álbum, O Jogo, talvez a música mais completa do Tiago, com uma melodia formidável e uma letra que conta o que cada um deve interpretar à sua maneira, mais uma vez, o significado pode tornar-se demasiado pessoal, é nisto que ele é bom, na minha opinião é a melhor música desde cd. Mas no fim vem a música que dá nome ao álbum, O Jardim, o meu único problema com ela é o bónus final da Canção Simples com a Sara Tavares e um irritante “Fazes muito mais que o Sol”, enquanto que o seu ínício é transparente e bonito.


 “Quero-te regar minha flor 
Quero cuidar de ti. 
Deixa-me entrar no jardim, 
Deixa-me voltar a dormir. 
(..) 
E faz voltar o que tens porque é meu..”







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