der untergang (2004)



der untergang
156'

ano: 2004
país: alemanha
realizador: oliver hirschbiegel
imdb: 8,4












conhecido como "downfall" e em português "a queda: hitler e o fim do terceiro reich" é sem dúvida dos melhores filmes que já vi (curiosamente começo a perceber que os filmes da segunda guerra mundial têm uma tendência para chegar ao meu top quando devidamente produzidos e realizados). no entanto, este filme demonstra o lado que eu muitas vezes acho que fica sempre deixado para trás e, durante a minha visita a berlim me deixou sinceramente desiludida: a inexistência da perspectiva nazi. apesar de poder ser chocante para alguns esta minha opinião, deixarei para o fim o porquê desta minha afirmação e, começarei por escrever sobre o filme.

o filme centra.se nos últimos dias de adolf hitler no final da II guerra mundial e, demonstra a derrota da alemanha frente aos russos e aos aliados através da invasão e destruição da cidade de berlim. a acção desenrola.se maioritariamente dentro do bunker de adolf hitler, onde se encontram alguns dos generais e parte do staff do führer. assiste.se assim (quase) em primeira mão ao que aconteceu nestes últimos dias, visto que o filme foi produzido a partir das memórias de traudl junge, a última secretária de hitler, da qual aparecem ainda filmagens de uma entrevista feita à mesma em 2002; também do livro "inside hitler's bunker" do historiador joachim fest; e, também das memórias de outros intervenientes que assistiram e viveram esses dias no centro da acção. 

 a acção ocorre quase toda (excluindo talvez os primeiros dez minutos) entre 20 e 30 de abril de 1945, sendo dia 20 a data do 56º aniversário de hitler (e último) e dia 30, o dia em que se suicidou com a sua então esposa, eva braun. penso que é interessante estabelecer aqui esta timeline, especialmente considerando que o filme tem duas horas e meia e, por vezes pensava que mais é que eles poderão escavar para ocupar o resto do tempo que ainda falta. e, isto não porque estava aborrecida, mas pelo contrário, simplesmente ponderava o que mais iria acontecer, o que mais iam detalhar. 

 entre estes dias, o filme retrata como hitler dirigia os seus generais enquanto os russos encontravam.se apenas a 12 km do centro de berlim, tal como (e penso que é a parte mais relevante do filme) a reacção dos berlinenses, tanto os que pertenciam ao partido político como os seus cidadãos, à possível e quase certa vitória dos russos na capital. 

 poderia explicar o que realmente acontece no filme mas vou.me focar nos conceitos que são abordados durante o filme e nos seus pontos fortes. começarei no entanto pelos pontos fortes e, o primeiro claramente é a prestação de bruno ganz como führer, a sua dedicação a interpretar por inteiro a figura de estado tão polémica da história alemã e mundial, que não deixa em nada duvidarmos que aquele seria mesmo hitler, ponto por ponto. outro ponto forte, são os cenários de destruição, que nos fazem em vez de imaginar, poder realmente ver a destruição de uma grande cidade, todos aqueles edifícios reflectindo a arquitectura alemã desfeitos constantemente por bombas. penso que foi uma das coisas que me fez gostar mais do filme, especialmente após ter visitado berlim e ver que aquilo não parecia meramente um cenário, mas uma cena real da segunda guerra mundial. 

 quanto aos conceitos abordados durante o filme, penso que o que para mim foi mais relevante foi a reacção de muitos berlinenses à conquista por parte do exército vermelho mesmo antes de ele chegar, que vai em seguimento da frase de hitler que para mim é a frase que dita estes últimos dias antes da queda de berlim: "eu irei derrotá-los em berlim, ou enfrentar a minha própria derrota". ou seja, muitos berlinenses optaram pelo suicídio, a alguma vez terem que se entregar ao exército vermelho. claro está que muitos destes, especialmente as mulheres temiam a violação, mas penso que mais relevante que o medo é a sua maneira de enfrentar a sua própria derrota. 

 outro dos temas, é o foco em hitler nestes últimos dias e, pelo que tenho lido a questão que marcou os jornais e que acho que fica bem explícita pelo bild

"será que nos é permitido mostrar o monstro como um ser humano?". 

e aqui entra a minha posição inicial, sobre o que para mim este filme demonstra e é algo necessário a nós como ser humanos para julgar e compreender o que acontecer, mas também de uma perspectiva de escrever a história, é extremamente importante relatar todas as perspectivas existentes, para assim sim, ter o que mais próximo podemos ter da verdade absoluta. e este filme pôs a sociedade a pensar no seu próprio conceito de democracia liberal, como disse o biógrafo de hitler sir ian kershaw no the guardian:

"Knowing what I did of the bunker story, I found it hard to imagine that anyone (other than the usual neo-Nazi fringe) could possibly find Hitler a sympathetic figure during his bizarre last days. And to presume that it might be somehow dangerous to see him as a human being – well, what does that thought imply about the self-confidence of a stable, liberal democracy?"

isto porque, para além de ter sido criticado por muitos o facto de retratar o lado humano de hitler, também é considerado que este poderá ser uma motivação para os jovens com tendências nazis. outra das opiniões que achei interessante foi no chicado sun-times, do crítico de cinema roger ebert:

"Admiration I did not feel. Sympathy I felt in the sense that I would feel it for a rabid dog, while accepting that it must be destroyed. I do not feel the film provides "a sufficient response to what Hitler actually did", because I feel no film can, and no response would be sufficient. As we regard this broken and pathetic Hitler, we realize that he did not alone create the Third Reich, but was the focus for a spontaneous uprising by many of the German people, fueled by racismxenophobia, grandiosity and fear. He was skilled in the ways he exploited that feeling, and surrounded himself by gifted strategists and propagandists, but he was not a great man, simply one armed by fate to unleash unimaginable evil. It is useful to reflect that racism, xenophobia, grandiosity and fear are still with us, and the defeat of one of their manifestations does not inoculate us against others."

após todas estas opiniões, cada vez fortifico mais a opinião do quanto é necessário acima de tudo compreender como e porquê ele fez tudo o que fez. a verdade é que este tipo de coisas continuam a acontecer, claro que em menor escala, mas continua (o que acontece em gaza é exemplo disso) e, o que demonstra é que apesar de hitler ser criticado, existem pessoas que ao julgá.lo esquecem.se de analisar o que alguns líderes andam a fazer e, ainda para mais com o elevado número de pessoas xenófobas, pergunto.me após o que roger ebert disse e, tal como o filme die welle desenvolveu, se hoje em dia não seria possível que tudo acontecesse outra vez. 

e, por isso considero que é importante perceber o porquê de hitler ter feito o que fez (para além da obsessão pelo poder que o nosso salazar também teve). acima de tudo compreender e, não atirar apenas pedras e julgar. e, quando fui a berlim, tive numa walking tour, apresentada por uma jovem da minha idade, que por acaso era australiana e, só faltou cuspir no parque de estacionamento sobre o bunker de hitler. e ela  discursou sobre o quão "mau" ele foi, mas não me soube explicar o porquê de ele ter sido assim, o que é que lhe fulminou para ser assim. e  existe ali toda uma cidade que vive na sombra do taboo, com monumentos em memória dos judeus que morreram e, em nenhum lado uma pessoa é capaz de perceber "o porquê" de algo ter acontecido. 

nada desculpa o holocausto, mas nada desculpa também a nossa constante ignorância em admitir que as coisas continuam a acontecer e, perceber que a solução não está no atirar pedras, mas na origem das coisas.

RATING: 5/5

*

nota: antes de mais, as fontes das críticas apresentadas foram retiradas da wikipédia, que tem uma página bastante completa sobre o filme. no entanto, gostaria também de pedir desculpa por existir uma carga tão elevada da minha opinião sobre o assunto, mas acho que este é um assunto que deve ser debatido por cada um de nós, individualmente. 

1 comentário:

Unknown disse...

Nada é mais importante que entender o que de facto aconteceu e não transformar esse acontecimento ou ser humano num caso isolado, pois como defendes, é tudo menos isolado. Desde as limpezas étnicas feitas na américa do sul pelos espanhóis até aos regimes bárbaros africanos apoiados pelas democracias ocidentais que existe por todos uma condenação a estas práticas mas por poucos um afastamento claro de ideologia, com isto quero dizer que a lição não foi aprendida e parece existir uma intenção forçada de afastamento da personagem que ele foi contudo não dos ideais que ele defendeu. Penso que é demasiado complexo dar uma outra opinião sobre o assunto pois tenho que reflectir mais sobre o mesmo.