die welle (2008)


die welle
107'

país: germany
ano: 2008 
realizador: dennis gansel
imdb: 7,5










"a onda" é o nome do filme em português e que retrata uma experiência a nível de ensino de ciências políticas numa escola alemã, em que um professor de tendências anárquicas é posto a ensinar durante uma semana o conceito de autocracia (em termos simples consiste num regime político em que o poder está concentrado numa só figura de poder). 
esta aula começa com uma pergunta que define todo o trajecto do filme apesar de a meio do filme já não nos lembrar-mos dessa pergunta tal é a imersão na experiência como espectador: seria possível existir na alemanha de hoje uma ditadura? esta pergunta gera pequenos debates, um que considero especialmente interessante e que se encontra bastante implícito numa viagem a berlim, é o papel do regime de hitler na alemanha actual: deverá ser visto como uma lição e algo que não define os alemães na sua totalidade ou será uma responsabilidade histórica sentir a culpa pelos actos que ocorreram ainda nos dias de hoje?
devido a estes debates, o professor decide levar a experiência com a duração de uma semana um bocado mais longe e questionar sobre as condições que levam e definem um sistema autocrata e, em cada dia aplicar cada uma das suas vertentes. a construção de um regime autocrata na turma por passos torna imperceptível para os personagens o impacto que a experiência começa a ter neles próprios como indivíduos mas também como um grupo inserido num contexto social. 

em primeiro lugar, o que me salta à vista na primeira parte do filme, é como é possível apesar de tudo criar uma situação de ensino muito mais real, cooperativa, que permita os jovens para além de compreender perceber todas as perspectivas que o mundo e a história envolvem. neste filme, vemos um professor anárquico a ensinar um regime autocrata, vemos a perspectiva de jovens de um país marcado pela responsabilidade de um holocausto que os define como cidadãos. apesar da aplicação de um sistema autocrata dentro de uma turma, se desmontar-mos os momentos iniciais de definição deste sistema na aula, podemos ver que o professor apenas instala regras de disciplina e união: regras de intervenção de debate, criação de situações de debate, dar voz às opiniões dos alunos e dar-lhes responsabilidade de definição de condições para um sistema colectivo. penso que de certa forma o filme acaba de tal forma que quase nos faz esquecer que o que descarrilou se deveu ao ponto que os alunos levaram a informação e a experiência, para um lado emocional que permitiu que perdessem o controlo entre a fronteira entre o que é real e o que não é. 

o filme alerta-nos também para uma realidade presente na geração actual: a susceptibilidade a novas ideias e, completa rendição às mesmas sem debate ou fundamentação. tal como apresentei no post anterior a opinião de alberto gonçalves, a população jovem hoje, em portugal e não só, sai às ruas para debater-se contra um inimigo, mas sem qualquer fundamento, apenas vontade de se opor a algo. logo no início do filme penso que apesar de subtil é relevante o suficiente quando um aluno numa festa questiona outro sobre o que é que existe para lutar nos dias de hoje, que tudo o que ser jovem hoje em dia é ir a festas e viver a vida, sem ter nenhum objectivo comum. penso que isso reflecte os jovens de hoje que vivem na sombra de lutas pelos direitos que hoje desfrutamos (25 de abril, a queda do muro de berlim, maio de 1968, etc) e, tal como dizia alberto gonçalves, estes jovens vão para as ruas com clichés revolucionários a gritarem como se tivessem na praça tahir no egipto, no entanto subtrai-se-lhes os argumentos e adiciona-se um desrespeito pelos que andam efectivamente a lutar por razões plausíveis com fundamentos relevantes. 
 no entanto, não é apenas esta a razão que leva estas debandas por manifestações e descontrolo. no filme, o argumento está organizado de tal forma, que existem clusters de personagens que representam diversas razões para o despoletamento de uma experiência escolar num movimento autocrata e rebelde. outra razão que é constantemente abordada relativamente às novas gerações é o facto de os jovens crescerem "sozinhos" com níveis altos de dependência económica mas também de independência social. até que ponto deve ser levada a independência social? em que crianças aos 13 e 14 anos já andam pela rua a beber, a quererem-se fazer adultos sem terem maturidade para acarretar as consequências devidamente e, ainda por cima estando ainda mais susceptíveis a qualquer tipo de exemplo, que cada vez se vê menos a ser dado dentro de casa. isto cria um novo perigo, pois qualquer um persistente o suficiente e com as tecnologias de dispersão de informação dos dias de hoje, consegue criar um movimento de revolução mesmo que seja oco. não só vemos isto nas manifestações de hoje nas nossas avenidas, mas ainda mais gravemente transpostas no que aconteceu nas ruas de londres e manchester por exemplo. a causa que supostamente todos criaram a primeira manifestação apenas atiçou um rasto de destruição que estava à espera de ser despoletado para os jovens descarregarem não só a sua rebeldia pela inexistência de um significado para a sua vida mas também pela inexistência de um suporte familiar que saiba dar orientação. 

existe algo que me desilude bastante nesta geração apesar de termos que atribuir culpas às gerações que permitem que as coisas cheguem a este ponto. estamos no auge da era da informação, algo que não acontecia nos anos 60, 70 ou 80 e, no entanto vemos a geração mais estúpida que já deve ter existido. se existe algo que defendo, é que estúpidos ou burros não são os iliterados e as pessoas que por exemplo no interior da turquia continuam a votar em regimes que já deixam de representar o país; burros e estúpidos, são aqueles que têm acesso a aprender, a informação e nada fazem com ela. são todos aqueles jovens que têm licenciaturas (seja no que for...) e vão para manifestações reproduzir frases que não sabem o seu significado. no filme, vemos jovens que perdem as suas personalidades por um colectivo, sem fundamento ou qualquer tipo de inteligência crítica. a união faz a força, mas para existir união todos devem seguir algum objectivo comum que esteja devidamente fundamentado para que a união faça sentido. 

cada vez mais a informação perde o seu valor (a não ser nos mercados financeiros, mesmo que sejam meras especulações...) e as emoções tomam conta das pessoas. até a minha área, o marketing, já nos prepara para isso, claro que torna tudo mais interessante para tentar vender produtos, mas a emoção não deve ser totalmente cega, no que toca à nossa vida em sociedade e ao nosso papel como intervenientes e constituintes da mesma. 

todos estes são aspectos que o filme traz ao de cima e, voltamos à pergunta inicial após os confrontos no reino unido e as manifestações que por cá se passam: será que não corremos o perigo de uma revolução que pode ser despoletada a qualquer momento? não falo do fim dos dias, falo apenas do medo de burrice organizada aliada a movimentos de destruição, que continuam a ser negligenciados e ignorados. 

RATING: 5/5

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